quarta-feira, 14 de março de 2012

A bronca do Secretário da Fifa revelou o quanto somos hipócritas


Vivemos no “país do jeitinho”.
Furamos fila, até do transplante de órgãos, sem vergonha alguma.
Atrasamos contas e, mesmo assim, nos assustamos com o tamanho da multa.
Desconfiamos da polícia, somos mal tratados em delegacias, vivemos presos em casa com os bandidos soltos por aí.
Achamos um absurdo quando nos pedem para respeitar uma regra, como, por exemplo, dá preferência a idosos, gestantes, lactantes, pessoas com crianças de colo nas filas de órgãos públicos.
Afinal, burlamos essa lei todo santo dia.
No domingo, acompanhamos o Fantástico com a certeza absoluta que um novo caso de corrupção será divulgado.
Consideramos uma atitude normal pagar “algum por fora” para um funcionário “quebrar o galho” nas mais diversas situações.
Usamos relógio por mera curiosidade de saber que horas são, porque nunca respeitamos os horários dos nossos compromissos.
Somos indolentes, deixamos tudo para última hora, e ainda achamos graça.
Somos mal-educados ao jogar, de papel de bala e bituca de cigarro na rua, a sofá nos rios e córregos.
Reclamamos da falta de educação no trânsito, mas somos capazes de cuspir nas costas de um trabalhador em um estádio de futebol.  
Nos nossos ginásios de vôlei, jogadores são chamados de “bicha” e “macaco”, sem pudor, nem punição.
Temos como ídolo da maior torcida do Brasil um “falso malandro” como Ronaldinho Gaúcho, a reinvenção dentuça e milionária de Vampeta no Flamengo.
Pagamos impostos por educação, saúde e segurança, mas os que podem recorrem a empresas particulares devido ao caos instalado nas instituições públicas.
Vivemos em uma cidade que não incrimina ninguém pela morte de uma família inteira na colônia Pau Brasil.
Vivemos em uma cidade onde os preços do gás e do combustível é tabelado em todos os revendedores.
Somos cordeiros, aceitamos tudo passivamente, nos identificamos com a música “Vida de Gado”, de Zé Ramalho.  
Nosso poder de mobilização, ultimamente, tem sido verificado em eventos “alternativos”, como uma festa no Big Nigth (Que já chamo de BBB, pois toda semana elimina um, em noites especiais, dois).
Somos representados na Câmara Municipal, no Congresso Nacional por políticos vagabundos, que vivem às nossas custas sem nos dar nada em troca.
Temos o desejo oculto de chutar a bunda de cada um desses sanguessugas, que nada mais são do que o espelho da nossa sociedade.
Ao criticar o francês Jérôme Valcke, o (detestável e arrogante) secretário-geral da Fifa, damos uma aula de hipocrisia.
Porque nós, brasileiros, estamos longe de ser orgulhosos.
Se fôssemos, viveríamos em outra realidade e a bronca histórica e justa do cartolão estrangeiro não teria acontecido.
Notas
– Valcke errou obviamente na forma, mas acertou no conteúdo.
– A Fifa não colocou uma arma na cabeça de Ricardo Teixeira e Lula para levar a Copa do Mundo ao Brasil.
– Pelo contrário, o País se comprometeu a cumprir as exigências da entidade e, desde então, só enrolou.
– Nem um compromisso com o maior evento do esporte mundial, somos capazes de atender.
– Por fim: se você não é o brasileiro típico, e se sentiu ofendido pelas palavras do francês, merece uma salva de palmas.


(Texto de Milton Neves, adptado por Yure Nicolau, o Bicho de Pé)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pela sua participação!