Tião Martins (publicado no Jornal Hoje em Dia, 17/04/12)
O Brasil é hoje tetracampeão em felicidade e será também daqui a cinco anos, garante pesquisa recente da Fundação Getúlio Vargas (associada à Consultoria Gallup).
Deveríamos negociar a receita do milagre com o resto do mundo. Sarkozy, Angela Merkel, Vladimir Putin, Barack Obama e outros líderes de povos infelizes pagariam uma nota preta por esse brasileiríssimo segredo tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza.
Afinal, quem nos fez assim tão felizes? Nossos ministros inocentes e puros de coração, Delúbio Soares e Renan Calheiros, talvez. Ou teria sido o novíssimo integrante da banda podre? Novíssimo no sentido de que ainda será descoberto, pois acabou de se associar ao bando e ainda não caiu nas graças de bichos e bicheiros.
Neste solo fértil do Brasil, "tudo em se plantando dá", contava em 1500 o escrivão Pero Vaz de Caminha. São cinco séculos e alguns quebrados de plantio e colheita do bom e do melhor.
Plantaram o mensalão, por exemplo, e foi o maior sucesso na carreira política do Zé Dirceu, que obteve a lista quase completa dos políticos corruptos. Quase.
Plantaram o mensalão, por exemplo, e foi o maior sucesso na carreira política do Zé Dirceu, que obteve a lista quase completa dos políticos corruptos. Quase.
Depois, vieram outros, que ainda lutam bravamente por um convite para a grande festa.
Lançaram o crack e já somos campeões mundiais de consumo e disputamos o título de grandes exportadores para a Europa e a África.
Lançaram o crack e já somos campeões mundiais de consumo e disputamos o título de grandes exportadores para a Europa e a África.
Comemoramos a edição da lei seca no trânsito e nunca tivemos tantos bêbados ao volante, atropelando e matando.
Estávamos todos preocupados com o que aconteceria na bacia do Rio São Francisco, com o incrível projeto de transposição das águas, que já engoliu mais dinheiro público que qualquer governador do Distrito Federal. E lá está o Rio do Chico, cada vez mais seco e poluído, mas quietinho em seu curso, por onde corre há milênios.
O maravilhoso trem-bala, promessa do Messias milagreiro, até hoje não provocou qualquer dano ambiental na Mata Atlântica, entre Rio e São Paulo, simplesmente porque ainda não saiu do papel.
Sim, somos felizes, mais que o universo inteiro, por uma razão simples: não damos o menor valor a nada disso. A corrupção nos diverte, a mentira estimula a criatividade dos chargistas e é preciso garantir o cachê dos humoristas da TV.
Engoliram nosso dinheiro? Azar o deles.
Dinheiro não traz felicidade e ainda vai acabar provocando tremenda indigestão em nossos líderes. Se o PMDB, o PT, o PP, o PTB e demais afilhados estão felizes e de barriga cheia, ótimo. Isso é que importa.
E agora que os brasileiros estão mais felizes que suecos, suíços e dinamarqueses, por que vamos perder o sono? Temos samba, carnaval e futebol.
Essa pesquisa veio na hora certa, para levantar ainda mais o astral da turma. Logo, trata-se de patriótica contribuição da FGV, que certamente foi bem remunerada por esse trabalho, como aconteceu com o projeto de reforma que fez para o Senado, por encomenda do patriota José Sarney.
A Fundação jura que ouviu cerca de 200 mil pessoas, em 158 países.
Hoje, 157 estão infelizes, enquanto nós esbanjamos saúde de ferro, entusiasmo juvenil e alegria de palhaço que vê o circo pegar fogo. Além da certeza de que estaremos sempre assim.
Hoje, 157 estão infelizes, enquanto nós esbanjamos saúde de ferro, entusiasmo juvenil e alegria de palhaço que vê o circo pegar fogo. Além da certeza de que estaremos sempre assim.
Só é estranha e suspeita a conclusão de que as mulheres brasileiras andam bem mais felizes que os homens. O que será que estão aprontando? Como diria o falecido Manoel Calvão, marido ciumento, desses que dormem de olho aberto, suspeitam da própria sombra e jamais largam o cabresto, "coisa boa não é". Tanto que a mulher dele nunca foi feliz. E ele também não.
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